21 maio 2018

Uma trinca de gênios do humor: Raul, K.Lixto e J.Carlos (01)


Na primeira metade do século XX, uma trinca de gênios do humor gráfico se destacou no Brasil: Raul Pederneiras, K.Lixto e J.Carlos.  Os três estrearam na imprensa quase ao mesmo tempo - na virada do século 20. A caricatura genuinamente brasileira surge a partir desta estréia.  Com eles nascia a caricatura de autor, cada um mantendo um estilo próprio que se evidenciava inclusive na escolha das temáticas.


Raul Paranhos Pederneiras (1874-1953) — Raul, como ele assinava, ou Pederneiras, como ficou conhecido na crônica editorial brasileira destacou-se no jornalismo da primeira metade do século XX. Intelectual de fina formação, mas tinha também alma boêmia — por genuíno gosto pela noite e como fonte de inspiração essencial para as observações da rotina do Rio, que publicava nas suas “Cenas da vida carioca”, um olhar crítico e bem-humorado sobre a cidade e sua população. Irmão do poeta Mário Pederneiras, Raul cursou direito, além de exercer atividades como professor, caricaturista (que lhe deu notoriedade), poeta, teatrólogo, compositor, publicitário e jornalista (exerceu o cargo de presidente da Associação Brasileira de Imprensa por dois mandatos: 1916-1917 e 1920-1926). E para lembrar que ele foi um dos pais das histórias em quadrinhos brasileiras, a historiadora Laura Nery vai lançar, ainda este ano, pela Editora Noir o livro “Devaneios Cariocas, os quadrinhos revolucionários de Raul Pederneiras”.


Segundo o pesquisador Gonçalo Júnior, foi no álbum Cenas da vida carioca, coluna que fazia para a Revista da Semana – também publicava sátiras no Jornal do Brasil – que ele se mostrou um exímio autor de quadrinhos, embora jamais usasse o recurso dos balões, preferia as legendas. Numa das histórias, intitulada “No municipal”, ele retratava com graça um dos prazeres da elite carioca – ir a espetáculos no mais pomposo teatro da cidade. Mas foi com “O povoamento do solo, nos sábados, à tarde”, que mostrou refinamento.


Ainda nessa coluna, em “Casa de cômodos”, de 1924, que ele dava um corte lateral num sobrado de quatro andares que permitia ao leitor observar tudo que acontecia em todos os pavimentos e personagens ao mesmo tempo, numa surpreendente síntese que não se vira até então.

O primeiro desenho de  Raul foi publicado em 1898 (há 120 anos) em O Mercúrio, que por ser totalmente colorido era uma revolução para a época. Depois sua fama só fez aumentar com a publicação de seus trabalhos em periódicos como O Tagarela, D.Quixote, Fon-Fon, O Malho, Correio da Manhã,  o Paiz, Jornal do Brasil e outros.


Entre suas criações de mais sucesso estavam as Cenas da Vida Carioca (sátira aos usos e costumes da classe média de então) e os Onomatogramas (representações gráficas de nomes). Estes conquistaram aplausos até no exterior. Até hoje seu trabalho é reverenciado, pelo pioneirismo e pelo traço incomparável, como um dos mais influentes e elegantes da história do humor gráfico do Brasil.



Um comentário:

MarujoBHZ disse...

muito legal! eu tenho aqui em casa método de desenho e caricatura do raul, de 1950, uma raridade.