03 abril 2018

Com a palavra, nossos artistas gráficos


De que riem os baianos? Atualmente, de quase tudo. Desde piadas com animais a slogans eleitoreiros. Tanta graça só pode significar que o país vai mal. “A coisa aqui tá preta” já cantou Chico Buarque em Meu Caro Amigo. Há mais coisas pairando no ar do que urubus e aviões de carreira. Assim, a linguagem do humor foi, entre todas as expressões criativas do Brasil, a que mais se desenvolveu nos últimos anos. De muitas maneiras, os cartunistas passaram suas mensagens e, quando isso na era possível, encontrava ainda um jeito de evidenciar a impossibilidade.


Cresce o número de artista que “pratica” o cartum, as artes gráficas na Bahia. Cartunistas baianos mostram que nem tudo é apenas o traço leve no desenho. Por trás, há o artista, o homem inquieto, problematizado, problematizante, armado, forçando, forçado. Se o cartum não é arma, ao menos detona, e se detona, está aí na praça e traz alguma coisa.


A facilidade com que seus cartuns e/ou quadrinhos provocam ranger de dentes (e reflexão) em meia dúzia e gargalhadas no resto da população até dá no que pensar. Deve ser fácil ser Nildão, Setúbal, Flavio Luiz, Bruno Azi, Cau Gomez, Caó, Café, Hector Sala, Valmar Oliveira, Wilton Bernardo, Gentil e tantos outros. E se há alguma dificuldade nisto, só os próprios sabem – ou talvez só doa quando eles respiram, o que aliás insistem em fazer. A esse credito que tem com o público, eles correspondem com  a única arma do humorista: quando a realidade se aguça, correm para a prancheta (e/ou computador) e fazem imediatamente ponta no lápis.


Todos os principais desenhistas de humor na Bahia têm hoje características bem pessoais, definidas, inconfundíveis. Podem chamá-las de estilo, eles não se ofendem. Afinal levaram anos trabalhando para criar um traço, e isso consumiu dúzia de lápis de cor, rabiscos em paredes proibidas, dedos e toalhas sujas de nanquim, pitos da mãe, zero da professora, muitos originais recusados e alguns habituais consultas aos cartuns de Henfil, Ziraldo, Shimamoto, Flavio Colin, Millôr, Laerte, Angeli, Caruso, Jaguar (só para descobrir como eles faziam e tentar fazer diferente) – até a descoberta final do estilo próprio.


A partir de amanhã (04 de abril de 2018), nesse espaço, vamos conhecer o pensamento e reflexão de Setúbal, Cau Gomez, Flavio Luiz, Ruy Carvalho, Valmar Oliveira e muitos outros. Saber como eles resolveram, um belo dia, provocar a fúria e o ranger de dentes de meia dizia de baianos, e divertir muitos outros cento e tanto milhões de brasileiros.   

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