22 agosto 2017

Mulheres de Corto Maltese

As mulheres tiveram um papel importante na infância de Hugo Pratt na cidade de Veneza. “As mulheres da minha família conheciam montes de histórias, de lendas, de mitos, encontavam-nos à maneira delas. Tudo isso se misturava na minha cabeça, mas eu orientava-me sem dificuldade nesse mundo de fábulas. Esses anos da infância em Veneza foram essenciais na minha formação. Desde a mais tenra idade, fui habituado a evoluir por entre todas as espécies de crenças, de culturas, de mitologias, e essas questões nunca deixaram de me apaixonar”, revelou Pratt a Dominique Petitfaux no livro O Desejo de ser Inútil (Relógio D´Água Editores, 2005, pagina 32).


Seus quadrinhos estão cheios de mulheres de todos os tipos, das duquesas às prostitutas, mas todas têm pontos comuns: são geralmente belas, aventureiras e perigosas. E sobre as mulheres ele explicou. “Nunca fui fascinado por uma mulher por razões sociais. Gostei de mulheres de todas as condições sociais, de todas as idades, de todas as cores de pele. Dei-me com todos os tipos de mulheres, mas nunca fui particularmente atraído pelo exotismo, esse racismo às avessas; a maioria das mulheres que conheci era de tipo europeu, e com uma mentalidade não diversa da minha (...) Nunca fui machista com ela, nunca pensei que o homem era por definição superior, nem sequer no plano físico, pois as mulheres vivem em geral mais tempo (...) As mulheres da minha  vida nunca prejudicaram a minha obra, pelo contrário, diria até que foram complementares. Ajudaram-me a viver, logo, a trabalhar, e enriqueceram a minha vida: a minha experiência das mulheres encontra-se nas minhas histórias” (paginas 258, 259 e 261).


O que o guiou na sua vida, pergunta Dominique. E ele responde: “A curiosidade intelectual. Eu tenho curiosidade de conhecer o amanhã. A minha vida está cheia de surpresas e de prazeres. As minhas pesquisas em diversos domínios abriam-se ao mundo e a mim mesmo” (pagina 288).

E para encerrar, ele revelou que encontrou a sua ilha do tesouro. “Achei-a no meu mundo interior, nos meus encontros, no meu trabalho. Passara minha vida com um mundo imaginário foi a minha ilha do tesouro (...) quando penso naqueles que me acusavam de ser inútil, e no que eles julgavam ser útil, então, garante eles, não tenho apenas o prazer de ser inútil, mas também o desejo de ser inútil”. A entrevista foi realizada entre janeiro de 1990 a março de 1991.


Seu personagem, Corto Maltese que há 50 anos espalhou o seu charme e o seu mistério. De Veneza à Irlanda, da China ao Saara, passando por Hollywood, Petrogrado, Etiópia, etc, etc, etc. Como frisou Michel Pierre, “Corto Maltese é sem dúvida um dos heróis mais sedutores da banda desenhada. E sem mulheres faltar-lhe-ia realmente uma razão de existir”. Pandora, Soledad, Banshee, Morgana, Madame Java, Boca Dourada, Xangai-Li são apenas algumas das razões de existir de Corto Maltese.
(Este ano, em homenagem aos 50 anos de nascimento de Corto Maltese, Bruno Enna e Giorgio Cavazzano produziram uma historia em quadrinhos de aventura do Mickey Maltese em duas partes que a Editora Abril publicou)


Com poderosos traços e simbolismo, Corto é retratado junto às mulheres de uma forma que as dignifica. As mulheres que se cruzam com Corto Maltese e que lhe ficam no coração são ricas em personalidade, emoções, sensualidade e são de fato diversas no seu caráter e origens. Pratt explora, de novo com talento, a diversidade que a beleza feminina étnica possui e retrata as mulheres de varias raças e origens de forma real e inconfundível.


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