24 maio 2013

Piaçava é grande destaque econômico no sul da Bahia



A palmeira Attalea funifera Martius, conhecida por piaçava ou piaçaba, é uma espécie nativa e endêmica do sul do Estado da Bahia. O nome piaçava é de origem tupi, que quer dizerplanta fibrosa, devido ao seu caule característico, com a qual se faz cordas, escovas, vassouras, artesanatos, etc. Essa palmeira foi citada na carta de Pero Vaz de Caminha na época do descobrimento do Brasil. Entretanto, seu uso teve início no período colonial: por oferecer maior segurança às embarcações, as fibras da piaçava eram procuradas por navegadores de várias nacionalidades para fabricação de cordas utilizadas como amarra de navios.


Produtora de fibra longa, resistente, rígida, lisa, de textura impermeável e de alta flexibilidade, a piaçava é uma palmeira genuinamente brasileira, crescendo espontaneamente. A obtenção da fibra é uma atividade puramente extrativista. O único plantio organizado foi realizado em 1970, próximo ao município de Valença, na Bahia. Exigindo poucos recursos financeiros para o plantio, a manutenção e exploração tornam a piaçaveira uma opção agrícola atraente, pelos reduzidos riscos e altos rendimentos que proporciona ao investidor.

O Estado baiano responde por 95% da produção brasileira. Na região sul do Estado, entre os principais municípios produtores, destacam-se Cairú, Itubera, Canavieiras, Nilo Peçanha, Ilhéus, Una, Belmonte, Camamú, Santa Cruz Cabrália, Maraú, Valença e Itacaré. No recôncavo, com menor produção, apresentam-se as seguintes: Santo Amaro, Cachoeira, Maragogipe, Jaguaripe e Nazaré. A piaçava da Bahia tem fibras impermeáveis que conservam a elasticidade quando umedecidas. A fibra é usada na confecção de vassouras, escovas, cordas para navios, cestos, invólucros para moringas e outros artigos domésticos.

Nas áreas produtoras, centenas de empregos são mantidos nos depósitos de piaçava, onde é feito o seu beneficiamento, assegurando o sustento de muitas famílias. Dessa forma, tem-se a criação de trabalho tanto no meio rural como urbano. também dezenas de unidades produtoras de vassouras, espalhadas em vários municípios, agregando um maior valor ao produto. Nos últimos anos, tem crescido o número de produtores interessados por essa palmeira. É muito raro encontrar um produtor de piaçava querendo vender a sua propriedade, o que não acontece com aqueles que exploram outras culturas.

Escovões dos carros de limpeza de ruas utilizam a piaçava, somente essa fibra resistiria sem quebrar a rotação e o atrito dessas máquinas. A Rússia, os EUA e vários outros países importam a piaçava para utilizar em equipamentos de varrer a neve. Cabos navais, cordas, artesanatos, isolante térmico e uma infinidade de aplicações podem encontrar na piaçaveira a fibra ideal. Não resta dúvidas que essa atividade se constitui numa das melhores opções para a diversificação agro-econômica do litoral sulda Bahia. Pelas vantagens que apresenta, mesmo sendo uma cultura de tradição secular, a piaçaveira é um tesouro econômico, e o que é melhor: bem baiano. As artesãs de Ponto Central, povoado de Santa Cruz Cabrália, município do extremo sul baiano, a 727 km de Salvador, conseguiram fechar um contrato de fornecimento de 43 mil bombonieres feitas com fibra de piaçava.


Um dos trabalhos desenvolvidos pela equipe de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), vinculada à Secretaria da Agricultura (Seagri), por meio do Escritório Local de Camamu, tem sido estimular a preservação e o manejo sustentável da piaçava (Ataleia Funifera Martins), nas comunidades quilombolas do Município de Ituberá, no baixo sul do estado.

O objetivo é fortalecer a cadeia produtiva da piaçava e repovoar as áreas degradadas. São realizadas capacitações que ajudam no desempenho dos trabalhos de campo e também na rotina administrativa das associações. Os técnicos ensinam, na prática, o manejo adequado do extrativismo da piaçava, com técnicas para a subida na palmeira, extração e melhor aproveitamento da fibra e dos cocos, destinada à produção de mudas, quebra de dormência (método voltado à germinação) e plantio. A EBDA também viabiliza oficinas que preparam os lideres comunitários para emitir notas fiscais eletrônicas, certificados digitais e elaboração de projetos.

O sisal é o principal produto da agricultura familiar e do segmento agroindustrial do semiárido brasileiro, cujo IDH médio é 0,589 e situa-se dentro do Programa Brasil Sem Miséria do governo federal. Estima-se que existem 400 mil agricultores familiares que cultivam o sisal em suas propriedades de pequeno porte (média de 15 ha). No Território do Sisal existem também 2.482 famílias assentadas, duas comunidades quilombolas e uma terra indígena que dependem da cultura.

A cultura é a principal geradora de emprego e renda para os cidadãos que habitam no Território do Sisal e gera empregos diretos e indiretos para cerca de 800 mil pessoas. Estima-se que existam 14 indústrias no Território do Sisal. O setor industrial (beneficiamento), comercialização e exportador é um dos maiores empregador de mão-de-obra local.

Além destes aspectos socioeconômicos, o sisal, cuja planta já aproveita as condições endofoclimáticas do semiárido brasileiro, tem ao longo da cadeia práticas ecologicamente corretas e de sustentabilidade, pois não são utilizados componentes químicos para a produção dos produtos finais (fios agrícolas, cordas, cordões, manufaturas, dentre outras).

A cadeia produz produtos ecologicamente corretos, cuja demanda vislumbra-se crescente principalmente em substituição aos antiecológicos derivados fósseis, com vantagens ambientais (o sisal é reciclável e renovável), sociais (o sisal é altamente demandante de mão de obra local da agricultura familiar) e econômicas (fibras naturais são mais leves, mais resistentes e mais baratas).


“Piaçava da Bahia - do extrativismo à cultura agrícola” é o titulo do livro de autoria do biólogo Luiz Alberto Mattos Silva e do engenheiro agrônomo Carlos Alex Lima Guimarães, editado pela Editus, Editora da UESC, lançado este ano. O livro, com 262 páginas, contempla aspectos botânicos, históricos e econômicos da exploração de fibras de piaçava no Brasil, com destaque para a piaçava baiana, de maior expressão neste contexto. Além disso, trás muitas informações sobre outros aspectos como cultivo, produção e produtividade, pesquisas recentes realizadas na UESC, nutrição e adubação, pragas, doenças, perspectivas, etc. Vale a pena conferir.


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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas), Galeria do Livro (Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (Barris em frente a Biblioteca Pública) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras, 28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

Um comentário:

Itapé Piaçava disse...

Grande produtor de piaçava
www.itapepiacava.wix.com/itapepiacava