23 julho 2012

Quem disse que gosto não se discute? (1)


Há 33 anos chegava ao público A Distinção (1979), o best seller de um dos mais combatentes sociólogos francês, Pierre Bourdieu (1930-2002). A obra estabelece que as práticas culturais juntamente com as preferências em assuntos como educação, arte, mídia, música, esporte, posições políticas, entre outros, estão ligadas ao nível de instrução, submetidas ao volume global de capital acumulado, aferidas pelos diplomas escolares ou pelo número de anos de estudo e, secundariamente, à herança familiar. Trata-se de desmistificar afirmações da ardem do senso comum quando se assevera que o gosto sobre determinada matéria não se discute. O gosto classifica e distingue, aproxima e afasta aqueles que experimentam os bens culturais.

Bourdieu mostra a maneira que as preferências culturais dos agentes são estruturadas – através de transmissão do capital cultural incalculado na escola e aquele herdado pela família, efetuado de maneira precoce ou através do aprendizado tardio. As práticas culturais incentivadas por essas duas instâncias distinguem aquilo que será reconhecido como gosto legítimo burguês, de classe média ou popular.

O gosto ou as preferências manifestadas através das práticas de consumo é, então, o produto dos condicionamentos associados a uma classe ou fração de classe. O gosto, dirá Bourdieu, é a aversão, é a intolerância às preferências dos outros. È percebida desta forma que a reprodução moral, ou seja, a transmissão dos valores, virtudes e competências, maneira de ver o mundo simbólico, serve de fundamento à filiação legítima de habitus distintos e desiguais, fortalecendo e intensificando a hierarquia do culturalmente aceito ou execrável, do autêntico ou do inautêntico.

A distinção desnuda e explica, ao mesmo tempo, os estudos sobre linguagens, grupos sociais, política, educação, arte ou comunicação, pois oferece uma análise do mundo social de maneira coerente e instigante. A distinção é a obra mais conhecida e mais prestigiada de Pierre Bordieu, e traz em boa parte de sua exposição as preocupações decorrentes de anos de estudos sobre a elaboração de uma teoria geral das classes sociais. Ele fez de sua vida acadêmica e intelectual uma arma política e de sua sociologia uma sociologia engajada, profundamente comprometida com a denúncia dos mecanismos de dominação em uma sociedade injusta.

HABITUS

Bourdieu identifica como habitus “pequeno burguês ascendente” a prática do relaxamento e a preocupação com uma alimentação light, que contrasta com o gosto popular pela agitação e comidas mais consistentes. A prática social não resulta, assim, necessariamente de uma escolha, mas de gostos (e de desgostos) profundamente enraizados no corpo. A essa lógica prática está associado um conhecimento prático, intuitivo, um “senso prático”.

Este saber prático incorporado vem alimentar um velho debate filosófico e sociológico sobre a relação entre a reflexão e a ação. A teoria da ação proposta por Bourdieu parte de uma crítica às leituras intelectualistas da ação, isto é, às visões que tendem a reduzí-la ao ponto de vista reflexivo daquele que observa, em detrimento do ponto de vista prático daquele que age.

O trabalho desse sociólogo incomodou muita gente porque ele interpretou os fenômenos sociais de maneira crítica. Na questão da formação do gosto cultural de cada um de nós, ele interpretou o jogo de poder das distinções econômicas e culturais de uma sociedade hierarquizada. Para ele o gosto cultural é produto e fruto de um processo educativo, ambientado na família e na escola e não fruto de uma sensibilidade inata dos agentes sociais.

---------------------------------------------
Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (Barris em frente a Biblioteca Pública) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

Nenhum comentário: