27 março 2012

Personagens com identidade brasileira nos quadrinhos (7)

Na Bahia, o cartunista que conseguiu captar a essência do baiano em todas as suas nuances, desde a ingenuidade, a liberalidade, a transgressividade, linguagem e a sua liberdade foi Lage. Com seu traço caligráfico, único, o mestre do desenho de humor baiano fez uma radiografia da “terra da felicidade” através de uma gama de personagens publicados nas tiras de jornais e revistas e até mesmo na tv (Educativa da Bahia).

L´amu tuju L´amu, Cartunzão, Tudo Bem, Brega Brasil, Ânsia de Amar, Dora Mulata e tantos outros de 1969 até 2006. Sua verve humorística não deixava escapar nada, seja na malícia das baianas, nos interesses escusos dos políticos, na sagacidade dos boêmios, na melancolia dos idosos e na alegria da juventude. Ele mostrou a Bahia de fio a pavio, em raio X, não poupou ninguém. Sua verdade foi radiográfica. Tudo passava pela sua lente sensível de observador atento a tudo o que acontecia em sua aldeia.


No início dos anos 1970 os quadrinhos infantis no país predominaram, com o início da publicação das revistas de Maurício de Souza e a montagem pela Editora Abril de um estúdio artístico, dando a oportunidade para que vários quadrinistas começassem a trabalhar profissionalmente, produzindo principalmente histórias do Zé Carioca e de vários personagens Disney, mas também trabalhando com todos os personagens que a editora adquirira os direitos, como os da Hanna-Barbera. Artistas brasileiros continuaram a desenhar histórias de personagens infanto-juvenis estrangeiros, como os contratados pela RGE para dar continuidade à produção de histórias e capas das revistas de sucesso do Fantasma, Cavaleiro Negro, Flecha Ligeira e Mandrake.

Personagens e autores brasileiros tiveram um pouco mais de espaço na Editora Abril com o lançamento da Revista Crás! (1974-1975), que trazia alguns personagens satíricos como o Satanésio (de Ruy Perotti) e o Kaktus Kid (de Canini, conhecido desenhista brasileiro do Zé Carioca). Satanésio chegou inclusive a ter título próprio, com duração de quatro números pela Abril. Trata de um "diabão", que, triste pelo fato de ninguém mais ir ao inferno, já que os humanos transformaram o próprio planeta num lugar similar, resolve dar um pulo "no andar de cima" para conseguir clientes. Constantemente desmoralizado, acaba tendo até que aguentar um anjo da guarda que quer protegê-lo, o Anjoca. Já Kaktus Kid é uma paródia dos velhos caubóis do faroeste. Inspirado no visual de Kirk Douglas, Kaktus Kid era o dono de uma funerária em busca de clientes.


Nos anos 1970 começou a circular no Brasil a revista MAD em português, que além do material original, trazia trabalhos de artistas nacionais, na qual se destaca o editor Ota. O sucesso desse lançamento, também fez surgir revistas similares, como Pancada e Crazy.

O desenhista Michele Iaccoca cria Eva (1970) na revista Claudia. A principal característica do humor de Michele é a sua ligação com a atualidade. No paraíso perdido de Michele, Adão e Eva nasceram sem olhos. Só a serpente enxerga. Conformista, acomodado, Adão aceita todos os esquemas da vida e da sociedade protegida por uma suave mistura de cinismo com ingenuidade. Desajeitadamente libertária, Eva luta inutilmente contra a passividade calculada de um homem e não consegue perceber que a maior parte das opressões está no angustiante vazio branco que envolve em cada folha.


Em 1971, Wera Rakowitsch, aluna de Arquitetura da UnB (Brasília) cria ZAP, um ser feminino, dócil e ao mesmo tempo crítico. O tipo da personagem é um pé. O fio de cabelo com o lacinho foi criado para fazer parte da caracterização da personagem. Muda de posição de acordo com os momentos de sua vida. Os dedos do pé, assim como o próprio pé, lhe servem de apoio e se movimentam em determinadas situações.


Em 1972 é lançada a revista Sacarolha, de Primaggio Mantovi, pela Rio Gráfica e Editora. O garoto Édson Arantes do Nascimento passa a reviver suas travessuras em busca de uma bola de futebol pelos campos como Pelezinho (1976), principal elemento da 12a família de personagens do desenhista de quadrinhos Mauricio de Sousa. O contrato, planejado desde fins de 1969, foi firmado em abril de 1976 e teve distribuição diária de tiras para jornais brasileiros e, principalmente no exterior.

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Um comentário:

Alessio Spartaco disse...

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