22 dezembro 2011

Para melhorar Salvador

Dá para sonhar com Salvador em preto e branco e mil toneladas de cinza pelas fotos de Pierre Verger ou no registro da região da Chapada Diamantina de Rui Rezende, a tradição de um povo nas fotos de Rogério Ferrari ao registrar o cotidiano do cigano ou mesmo o trabalho da fotógrafa das estrelas, a baiana Thereza Eugênia. Descobre que o melhor é mesmo Salvador ao ar livre, suas ruas, ladeiras, sua gente, e os panoramas que fazem da cidade uma verdadeira obra de arte viva. Atualmente, não tão viva assim, o termo certo é: abandonada.


O que é preciso ser feito para melhorar Salvador?


  1. Requalificação urbana e ambiental nas praias

  2. Obras de iluminação, restauração de monumentos, igrejas, fontes e construção de um centro de referência no Pelourinho

  3. Reforma no Elevador Lacerda e nos planos inclinados Gonçalves, Pilar e da Liberdade

  4. Ações de requalificação, ampliação do estacionamento do Mercado Modelo

  5. Recuperação das calçadas do Farol de Itapuã, recuperação do entorno do Farol da Barra e melhorias na Lagoa do Abaeté.

  6. Reforma do Largo de Roma e recuperação urbanista da Orla entre a Ponta de Humaitá e a Ribeira

  7. Criar infra estrutura para turismo náutico na Baia de Todos os Santos

  8. Deixar as ruas limpas, sem lixo ou buracos.

  9. Incentivar os moradores de bairros antigos (Saúde, Ribeira etc) a melhorar as fachadas de suas casas com novas pinturas e restaurações



POBREZA – A Bahia é um estado com grandes dimensões (564 mil km2), representando 36% do Nordeste. Do seu território, 66% se caracterizam como semiárido, o equivalente a 43% de todo o semiárido do Nordeste. Quase 30% da população baianas está na área rural, respondendo por 14% da população rural do Brasil, sendo que 32, 9% encontram-se em condição de extrema pobreza, frente a 11,1% da população urbana. Temos, ainda, 59,5% dos municípios com até 20 mil habitantes. Os dados são do diretor geral da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais (SEI), Geraldo Reis (A Tarde, 30/09/2011). Para ele, grande parte da pobreza na Bahia, além do aspecto da renda, está associado a outras dimensões, como falta de água, baixa escolaridade, analfabetismo e a reduzida produtividade da agricultura familiar.


CORDIALIDADE – Tem uma definição do Sérgio Buarque de Holanda em relação à cordialidade do Brasileiro. Há o lado iluminado da questão da cordialidade, da coisa do coração. E na Bahia temos isso. Mas para que o futuro seja o mais iluminado possível, a gente tem de definir melhor nossa vocação e cuidar da educação de forma séria, profunda, e que possa contemplar a questão da exclusão e da opressão.

ASSUSTADO – O filósofo José Arthur Giannotti, professor emérito da Universidade de São Paulo em uma entrevista a revista Cult (n.162, outubro 2011) afirmou: “Você vai a Nova York e vê uma produção intelectual que transborda nas ruas. Já nossas ruas têm sobretudo buracos: buracos na terra e buracos de pensamento. A cidade não tem plano nenhum, tudo cresce de maneira desordenada. Passei uma semana em Salvador e fiquei assustado com a desintegração urbana”.


CULTURA – Salvador tem uma vida cultural relativamente intensa, apesar da falta de verbas para as políticas públicas de cultura. Nos bairros populares o movimento hip hop se fortalece, as variações do samba de roda esquenta os finais de semana, o jazz aquece o Museu de Arte Moderna, nos guetos o rock and roll corre solto já que a axe music está em todos os espaços. Os poetas da Praça da Piedade travam diálogos com os cordelistas do Mercado Modelo. Os artistas plásticos usam e abusam das cores e formas nas diversas instalações vanguardistas. Os escritores reforçam nas palavras o poder de atingirem o grande público, apesar da parca distribuição, e os quadrinhos procuram cada vez mais mostrar seus valores na mídia que continua a olhar o estrangeiro com mais valor. Tudo isso esforço dos próprios artistas. O Estado precisa apoiar mais o florescimento dos trabalhos locais. Mas apoiar de verdade e não espalhar por quatro cantos esse apoio invisível. Até quando a cidade vai ficar nessa falta de atenção aos valores locais. Entra governante sai governante e tudo fica distante no império de dantes....


ESTAGNOU - “A Bahia perdeu muito da sua capacidade criativa e inovadora nas áreas da literatura, teatro, música, artes visuais, lazer e do entretenimento. Quando se perde essa capacidade de fazer coisas novas em todas essas áreas, você passa a viver do antigo, não que este seja ruim, mas não se estabelece ponte com o presente e com o futuro. A Bahia precisa inovar. O teatro feito hoje é o mesmo dos anos 1980. Na música, ainda estamos na última invenção, que foi o samba reggae. Nada de novo de lá para cá. A Bahia estagnou. Mais, estamos voltando para trás” (João Jorge, presidente do Olodum. Muito, revista semanal do grupo A Tarde. 13;11;2011)


“A Bahia está invisível e precisa de ações imediatas para se reinventar no cenário nacional”, pontua o diretor teatral, professor, roteirista, cenógrafo, dramaturgo Paulo Dourado (A Tarde, 17/10/2011)


“Salvador é uma cidade ágrafa. Ágrafa/ Sim, nem sequer analfabeta. Fala-se muito em Salvador. Fala-se o tempo todo. As contas de telefone são astronômicas. O tempo perdido com bate papo é incalculável. O baiano jamais vai direto ao assunto. Liga para pedir uma pequena informação e até chegar lá já passou a limpo os atrasos da amizade” (Ildásio Tavares. Nossos colonizadores africanos. Edufba, 2009, p.54)


“A cidade do Salvador, que eu chamo de Salvadores, é um lugar hoje inabitável e, infelizmente, as autoridades municipais, estaduais e federais não estão olhando para esta morte urbana das cidades (…) Salvador, hoje, é uma cidade medíocre porque vive em, função de ser uma cidade festeira e um balneário. A Bahia gira em torno do Carnaval, a Bahia está montada num trio elétrico permanentemente” (Fernando da Rocha Peres, poeta)


“A Bahia tem uma redoma que impede as coisas de chegarem, as pessoas de saírem” (Ducca Rios, artista plástico, cartunista, designer, quadrinista e músico. Muito. A Tarde.14/03/2010, p.7)


“Aqui tudo parece que é ainda construção e já é ruína. Estou de pé em cima do monte de imundo lixo baiano” (Caetano Veloso. Fora de Ordem)

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929).

2 comentários:

Sonia Elizabeth disse...

Doi ler as agruras vividas hoje pela cidade e seus habitantes...

No próximo ano tem eleição que os soteropolitanos avaliem com seriedade os candidatos, que novas forças mobilizem a cidade para vencer.

saudades de Salvador!!!

Gutemberg disse...

Soninha, Salvador está um caos. Tudo em ruína. A administração Municipal é zero e o povo continua calado. Esta é a nossa cidade.