29 dezembro 2011

Descoberta silenciosa do mar

O primeiro contato é de encantamento. Ao folhear cada página a sensação é de crescente bem estar, um maravilhado que não tem como descrever em palavras. “Ondas”, livro de Suzy Lee é como um poema, que permite que a imaginação de cada pessoa escreva uma história. Assim, uma menina, gaivotas e o mar formam uma história de descobertas e aventura. Com poucos traços a carvão, a coreana Suzy Lee ilustrou em azul, preto e branco o ruído das águas, o bater de asas das gaivotas, o vento que balança o vestido da menina e a conversa silenciosa que se estabelece ao longo da narrativa. Na história, a garotinha encontra o mar pela primeira vez e Lee ilustra as diversas etapas da relação que se estabelece, aos poucos, com o mar: curiosidade, desconfiança, enfrentamento, desapontamento, susto, desdém, contentamento e confiança.


Para a autora, a descoberta do “prazer universal” de se divertir a beira-mar suscita uma série de sensações, recriadas em imagens pela artista. Ela maneja delicadamente um azul intenso, capaz de dar fluência à leitura deste livro sem palavras em que até mesmo a divisão das páginas serve de resumo para conduzir a narrativa. “Sempre que visito o mar, em qualquer lugar do mundo, vejo adultos e crianças se divertindo enquanto brincam com as ondas, sem distinção entre eles. Sempre tive o desejo de fazer um livro sobre este prazer universal, e quis mostrar tal encantamento através de imagens poderosas, que dizem mais que palavras”, diz ela.

Sobre a divisão física do livro destacando dois planos narrativos, de um lado da página, a segurança, da terra firme; de outro, o mar e seus mistérios, ela informa: “Duas páginas distintas representam também mundos de realidades e fantasias diferentes. Quando a menina cruza a divisão do livro, ela é absorvida para o centro físico do objeto e então emerge dele como uma Alice quando sai do espelho (em Alice no país do espelho). A dobra entre as duas páginas do livro é um dos temas que me interessam. Além disso, Onda é um tipo de sequência do meu livro anterior, Espelho (Edizioni Coraini, 2003), no qual abordei o mesmo assunto: nele, a menina acha seu amigo refletido na página dupla”.

O livro-imagem vendeu 100 mil exemplares em apenas um ano. Sucesso dos verões (e outras estações) em diversos países, foi publicado inicialmente nos Estados Unidos e já ganhou outras versões pelo mundo e finalmente desaguou no Brasil pela conceituada Cosac Naify, uma editora de qualidade. Suzy Lee ganhou com Onda os prêmios de Melhor Livro Ilustrado (lista The New York Times), Melhor Livro do Ano de 2008 (álbum infantil, pela Publishers Weekly) e Melhor Livro Infantil de 2008 (Wall Street Journal)

Crianças e adultos podem até construir a história de Onda de formas diferentes, vão se assemelhar na magia do encontro com o mar – o barulho das ondas, a imensidão azul, pegadas na areia. O mar representa o desconhecido, que espanta e atrai com seu poder e beleza. A garota traz com ela o gosto do novo, a necessidade de experimentar para conhecer e aprender. É assim, entre o rugir das ondas - que às vezes se lançam mais furiosas à praia - e a proteção das gaivotas, que a menina estabelece sua comunicação com o mar. Respeitar a natureza pode ser um dos ensinamentos com gosto de poesia do livro-imagem. Saber que, como a garotinha de Onda, todos vamos crescer e enfrentar desafios, é outro. Importa mais lançar nas páginas coração e mente para escrever sua própria história e descobrir que amizades nascem também de diferenças. É assim que a menina, inicialmente tímida e assustada, experimenta as delícias da água salgada e fria. O mar a recebe e também a expulsa, mas, no final, revela sua grandeza com os presentes jogados na areia.


Contar uma história sem palavras e ser capaz de criar uma narrativa que pode ser lida inúmeras vezes, descobrindo detalhes novos em cada experiência. E essa palavra – experiência – é apropriada para definir o que é ler Onda, da coreana Suzy Lee. A artista mostra como uma menina que vai pela primeira vez à praia, encara o mar. Com formato horizontal, as páginas abertas formam um horizonte de 60 cm. À esquerda, estão a areia, a menina e algumas gaivotas. À direita, o mar. A garotinha chega à praia com a mãe, e se aproxima lentamente do mar, foge, grita, encara e flerta co ele. Aos poucos, ganha coragem para por os pés na água. Começa a brincar até que uma onda maior a assusta. Ela sai correndo e mostra a língua – acha que está segura na areia. Mas a onda arrebenta numa das ilustrações mais bonitas do volume. Depois que o susto passa, o azul do mar invade o céu e, de repente, a infância está resumida numa imagem. A menina nunca tinha visto a água antes. No início, ficou furiosa com o mar, depois assustada. Mas aí começou a brincar com a onda. Depois de tanto o que acontecia, acabou gostando da onda. Ficou amiga dela. A história é uma história de amizade. Mas sem uma palavra.


O poeta pergunta: "A onda anda?/ aonde anda/ a onda?. O outro responde, "no alto de sua crista". Enquanto isso o artista canta: "O mar quando quebra na praia, é bonito, é bonito". Para que outras palavras se Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto e Dorival Caymmi já emprestam as suas ao mar? Ao longa das imagens deste livro a menina conversa, brinca e até "tira uma onda" na praia. Se os poetas dedicarem seus versos ao mar, aqui é a menina que ouvirá a poesia que vem de suas marolas.

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