03 dezembro 2010

Poesia, poesia, poesia, alimento do dia

O povo ao poder (Castro Alves)


Quando nas praças s'eleva

Do Povo a sublime voz...

Um raio ilumina a treva

O Cristo assombra o algoz...

Que o gigante da calçada

De pé sobre a barrica

Desgrenhado, enorme, nu

Em Roma é Catão ou Mário,

É Jesus sobre o Cálvario,

É Garibaldi ou Kosshut.


A praça! A praça é do povo

Como o céu é do condor

É o antro onde a liberdade

Cria águias em seu calor!

Senhor!... pois quereis a praça?

Desgraçada a populaça

Só tem a rua seu...

Ninguém vos rouba os castelos

Tendes palácios tão belos...

Deixai a terra ao Anteu.


Na tortura, na fogueira...

Nas tocas da inquisição

Chiava o ferro na carne

Porém gritava a aflição.

Pois bem...nest'hora poluta

Nós bebemos a cicuta

Sufocados no estertor;

Deixai-nos soltar um grito

Que topando no infinito

Talvez desperte o Senhor.


A palavra! Vós roubais-la

Aos lábios da multidão

Dizeis, senhores, à lava

Que não rompa do vulcão.

Mas qu'infâmia! Ai, velha Roma,

Ai cidade de Vendoma,

Ai mundos de cem heróis,

Dizei, cidades de pedra,

Onde a liberdade medra

Do porvir aos arrebóis.


Dizei, quando a voz dos Gracos

Tapou a destra da lei?

Onde a toga tribunícia

Foi calcada aos pés do rei?

Fala, soberba Inglaterra,

Do sul ao teu pobre irmão;

Dos teus tribunos que é feito?

Tu guarda-os no largo peito

Não no lodo da prisão.

No entanto em sombras tremendas

Descansa extinta a nação

Fria e treda como o morto.

E vós, que sentis-lhes os pulso

Apenas tremer convulso

Nas extremas contorções...

Não deixais que o filho louco

Grite "oh! Mãe, descansa um pouco

Sobre os nossos corações".


Mas embalde... Que o direito

Não é pasto de punhal.

Nem a patas de cavalos

Se faz um crime legal...

Ah! Não há muitos setembros,

Da plebe doem os membros

No chicote do poder,

E o momento é malfadado

Quando o povo ensangüentado

Diz: já não posso sofrer.


Pois bem! Nós que caminhamos

Do futuro para a luz,

Nós que o Calvário escalamos

Levando nos ombros a cruz,

Que do presente no escuro

Só temos fé no futuro,

Como alvorada do bem,

Como Laocoonte esmagado

Morreremos coroado

Erguendo os olhos além.


Irmão da terra da América,

Filhos do solo da cruz,

Erguei as frontes altivas,

Bebei torrentes de luz...

Ai! Soberba populaça,

Dos nossos velhos Catões,

Lançai um protesto, ó povo,

Protesto que o mundo novo

Manda aos tronos e às nações.



Mário de Sá Carneiro

Perdi-me dentro de mim

Porque eu era labirinto

E hoje, quando me sinto,

É com saudades de mim.


Um pouco mais de sol - eu era brasa.

Um pouco mais de azul - eu era além.

Para atingir, faltou-me um golpe de asa...

Se ao menos eu permanecesse aquém...


Num ímpeto difuso de quebranto,

Tudo encetei e nada possuí...

Hoje, de mim, só resta o desencanto

Das coisas que beijei mas não vivi...



Alice Ruiz

Vê se me esquece

Já que você não aparece,

venho por meio desta

devolver teu faroeste,

o teu papel de seda,

a tua meia bege,

tome também teu book,

leve teu ultraleve

carteira de saúde,

tua receita de quibe,

de quiabo, de quibebe,

do diabo que te carregue,

te carregue, te carregue

teu truque sujo, teu hálito,

teu flerte, tua prancha de surf,

tua idéia sem verve,

que nada disso me serve

Já que você não merece,

devolva minhas preces,

meu canto, meu amor,

meu tempo, por favor,

e minha alegria que,

naquele dia,

só te emprestei por uns dias

e é tudo que lhe pertence

Cathy enviou para mim: "Venho do fundo das Eras, quando o mundo mal nascia... Sou tão antigo e tão novo como a luz de cada dia!" (Mario Quintana, no livro "A cor do invisível")

Para os admiradores do artista Setúbal, eis seu site imperdível:

http://paulosetubalcaricaturas.blogspot.com/">SETUBAL

Caros leitores: a partir de segunda feira (dia 06) estarei de férias. Serão 20 dias e vou aproveitar para ler uns livros reservados para ocasião (incluindo aí quadrinhos de alta voltagem), ouvir algumas músicas necessárias para o coração, colocar a mão na terra para saber da estação, mimar meus cachorros e plantar o que a natureza espera de cada um de nós. Dia 27 de dezembro estarei de volta. São poucos dias afastados. Voltarei com mais energia. Obrigado pela atenção.





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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Artes (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929.

Um comentário:

Mardonio disse...

Querido poeta,

Você escreveu um texto sobre MAnuel Vitorino há muito tempo, mas não colocou a causa da morte do ex-governador. Essa informação eu não encontro em lugar nenhum. Outra: ele era casado? Tinha filhos? Ajude, por favor.

Mardoniogastronomia@yahoo.com.br