25 novembro 2010

Samba de roda: mais do que um gênero musical, é o nosso patrimônio humano

Já dizia nosso poeta Dorival Caymmi que “quem não gosta de samba, bom sujeito não é. É ruim da cabeça, ou doente do pé...". Os escravos precisavam de ânimo para enfrentar a dor da escravidão, então, inventaram um jeito próprio de fazer o corpo e a mente relaxar. Pouco importava se era na cozinha, na senzala ou nas plantações, mexer os quadris ao ritmo das palmas, batuques, cabaças e canções era a forma encontrada por eles de fazer o “sangue alegrar”. Assim nasceu o samba, que veio dos batuques e lundos.

O samba é a principal forma de música de raízes africanas surgida no Brasil. O gênero, descendente do lundu (canto e dança populares no Brasil do século XVIII), começou como dança de roda originada em Angola e trazida pelos escravos, principalmente para a região da Bahia. Também conhecido por umbigada ou batuque, consistia em um dançarino no centro de uma roda, que dançava ao som de palmas, coro e objetos de percussão e dava uma ''umbigada'' em outro companheiro da roda, convidando-o a entrar no meio do círculo.


RECÔNCAVO BAIANO - Mais do que um gênero musical, o samba é hoje parte pulsante da nossa identidade nacional. Miscigenado, o samba conheceu a força do povo baiano, que agregou ao ritmo, suas próprias vivências. O samba baiano apresenta formas variadas cujos nomes remetem às coreografias e aos ritmos musicais. Dentre alguns, destacamos: Samba de Roda, Samba de Chave, Samba Partido-Alto, Samba Batido, Samba Baiano e Samba Bate-pau.


Fortemente praticado nos municípios de Cachoeira, Santo Amaro, São Félix, São Francisco do Conde, e em todo o Recôncavo baiano, o Samba de Roda é “um dos fundamentos de uma grande manifestação muito mais complexa, que é o samba brasileiro em seu todo. E, mais que isso, é a fonte, a matriz preservada de onde emana toda a grandeza dessa expressão musical”, disse o Ministro da Cultura, cantor e compositor baiano, Gilberto Gil.


TRADIÇÕES CULTURAIS - Os primeiros registros dão conta, já com nome e com muitas das características que ainda hoje o identificam, que o Samba de Roda data dos anos de 1860. Desde estes registros, já se testemunha a ligação do Samba de Roda a tradições culturais transmitidas por africanos escravizados e seus descendentes. A herança negro-africana se mesclou a essa variante do samba de maneira singular a traços culturais trazidos pelos portugueses, como certos instrumentos musicais, viola e pandeiro, principalmente, e à própria língua portuguesa e elementos de suas formas poéticas.

O próprio Samba de Roda possui inúmeras variantes, que podem, grosso modo ser divididas em dois tipos principais: o Samba Chula e o Samba Corrido. O primeiro é mais típico da região de Santa Amaro, e cujo similar, na região de Cachoeira, chama-se “barravento”, neste ninguém samba enquanto os cantores principais estão “tirando” ou “gritando” a “chula” – nome dado à parte poética deste tipo de samba. No Samba Corrido o canto é mais tipicamente responsorial, alternando-se rapidamente entre um ou dois solistas e a “resposta” dos participantes. Aqui, a dança acontece ao mesmo tempo que o canto, e várias pessoas podem sambar de cada vez.


PRINCIPAL FONTE - Os historiadores da música popular consideram o samba de roda baiano a principal fonte do samba carioca, que como se sabe veio a tornar-se, no decorrer do século XX, um símbolo indiscutível de brasilidade. As famosas “tias” baianas tiveram papel de relevo na fase pioneira do samba no Rio de Janeiro nos anos 20. Depois disso, o samba de roda baiano continuou sendo uma das referências do samba nacional, presente de maneira mais ou menos explícita nas obras de Dorival Caymmi, Ary Barroso, Caetano Veloso assim como na ala das baianas das escolas de samba e nas letras de inúmeros compositores de samba de todo o país.


Por toda sua beleza, força, resistência, cultura e história, o Samba de Roda foi inscrito em outubro de 2004, no Livro das Formas de Expressão do Patrimônio Imaterial do Brasil. Em novembro do ano seguinte, também foi incluído pela Unesco na Terceira Declaração das Obras Primas do Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade.

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