17 agosto 2010

De santo condenado a pequena Canudos o que não falta são casos inusitados

O município de Água Fria, a 148 km de Salvador, entre o Recôncavo e o Sertão, é o único lugar no mundo (pelo menos que se tem notícia) a ter julgado e condenado um santo. Isso mesmo, um santo, e dos mais venerados! Este fato para lá de inusitado ocorreu em meados do século XVIII. Famosa por sua justiça impiedosa, a cidade tinha senado, fórum civil e criminal, pelourinho e forca na praça central, e aplicava com rigor o Código Criminal do Império, cujo artigo 28 rezava que o proprietário era responsável pelos delitos praticados por seus escravos caso estes não fossem apresentados.


Santo Antônio era querido por toda a região, tanto que uma rica proprietária, de nome Isabel Maria Guedes, que guardava com extremo zelo na casa-sede de sua fazenda, uma imagem, tida por ela como milagrosa, resolveu deixar todos os seus bens para o santo casamenteiro, já que não tinha herdeiros. Em uma noite de louvor ao santo, um escravo da fazenda matou um homem branco, no adro da igreja e fugiu em seguida. Fiel ao que dispunha a lei, o juiz do município determinou a prisão do seu dono. Informado de que o assassino pertencia a Santo Antônio, ele não se fez de rogado. Mandou seus oficiais buscarem a imagem, que ficou presa e “incomunicável” por 30 dias até o julgamento, que transcorreu com pelo menos três audiências, júri, testemunhas e advogados de defesa e acusação.


Por interferência da Igreja, que protestava contra a heresia, Santo Antônio, apesar de condenado, escapou da forca, pena indicada para o crime. Mas perdeu todos os bens, que foram leiloados em praça pública. Depois da sentença, a imagem sumiu misteriosamente e nunca mais foi vista. Água Fria ganhou fama de cidade maldita. Virou motivo de praga. Antes disso, o lugarejo, que era muito próspero, se viu transformado em distrito do município de Irará, e somente em 1962 conseguiu sua emancipação e começou a se restabelecer. Ainda hoje, depois de 200 anos, o assunto é tabu entre os moradores, que preferem desconversar sobre o assunto, envergonhados e temerosos da “força da maldição de Santo Antônio”.


ANGICAL - Outro fato inusitado, ou melhor, irônico ocorrido na Bahia foi durante os anos 20, na cidade de Angical, a 600 km da capital, que acabou fazendo parte da história do Brasil. Para festejar a chegada da Coluna Prestes, a comunidade se mobilizou pra criar um hino em homenagem ao grupo revolucionário. Mas, não foi a Coluna que acabou passando pela cidade, e sim as tropas do exército, que ouvindo o hino “Avante camaradas!”, criado pelo maestro Antonio do Espírito Santo, sendo tocado no coreto da praça, resolveu adotá-lo, tornando parte da coleção dos hinos militares brasileiros. E assim, um hino criado para saudar a histórica Coluna Prestes, comandada pelo líder comunista Carlos Prestes, acabou jocosamente virando tema do Exército.


Este assunto ainda na memória entre os moradores de Angical, foi retratado no curta-metragem de 15 minutos, “Avante camaradas”, da cineasta francesa Micheline Bondi, que morou dez anos no Brasil. O curta produzido em 1986 só foi exibido em Angical em março de 2006. Em seguida a Filarmônica Lira Angicalense tocou com a Banda Militar em Brasília num encontro histórico. Foi exibido também o vídeo “Memórias de Angical”, do cineasta Póla Ribeiro que ouviu alguns relatos dos angicalenses sobre o hino.

MASSACRE - Pau-de-Colher é um pequeno e pobre povoado localizado a 130 km da cidade de Casa Nova. Assim como centenas de outras localidades idênticas, ele passaria anônimo pela história, se não fosse um episódio doloroso até hoje pouco conhecido. A localidade foi palco de um verdadeiro massacre, sendo inclusive chamada de “Pequena Canudos”, pois se não teve as proporções cruéis da Guerra de Canudos, foi igualmente impiedosa: cerca de 400 pessoas foram dizimadas. A história de Pau-de-Colher começa por volta de 1934, quando surge na região o beato Severino Tavares, o qual se dizia emissário de Padre Cícero. Quando o grupo que o acompanhava cresceu, chegando a cerca de mil pessoas, o conselheiro saiu de cena e mandou um emissário em seu lugar, na verdade, dois: José Senhorinho e Quinzeiro, que modificaram as ações do grupo religioso.


De um ajuntamento pacífico, as pessoas passaram ao fanatismo extremo, levado as últimas consequências. Sertanejos se tornaram assassinos de seus pais, mães, irmãos e quem mais se opusessem contra eles. Fanatismo de um lado, radicalização do outro. Forças policiais da Bahia, Piauí e Pernambuco juntaram-se para controlar a situação rapidamente e evitar que um novo Canudos ganhasse vida e abalasse a “paz nacional”. O fim de Pau-de-Colher foi fulminante e sem nenhuma chance de defesa.

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Um comentário:

Naldynha disse...

Em pesquisa, descobriu-se que o motivo para a condenação de Santo Antonuo, foi que o Juiz que chegoua Comarca de Água Fria, sabendos bens do Santo, o julgou e o condenou para ficar com os Bens,Rui Barbosa fala isso em um a das suas cartas a Silvio Romero.