30 julho 2009

Garotas de papel no Brasil

Até hoje as garotas mexem com o imaginário dos homens. No final do século 19 o teatro de revista vivia o seu auge nos Estados Unidos e transformou dançarinas em estrelas, fotografadas para revistas, anúncios e cartões, mas na década de 40 elas começaram a aparecer nas portas dos armários e paredes dos quartos de milhares de admiradores. E foi justamente esta a origem do nome pin up: o ato de pendurar as ilustrações em algum lugar. Desenhadas ou fotografadas, as garotas invadiram o planeta com suas poses sensuais porém sem vulgaridade.

Foi a partir de 1964, numa produção da Pirelli inglesa, que o calendário passou a ser um objeto absolutamente fascinante que logo se tornou peça de coleção, disputada em antiquários, e valendo bons dólares. As fotos de Robert Freeman nas areias de Mallorca eram atraentes e transgressoras. E definiram um estilo da Pirelli européia de fazer calendário marcado pela presença da mulher: no estado de mais puro sensualismo e beleza. E, também de cenários irresistíveis – o sul da França, oásis marroquino, paisagens da Tunísia, da Califórnia, da Jamaica, ou das Bahamas. Hoje, um exemplar dessas folhinhas vale pequenas fortunas nos leilões de memorabilia.

Em 1974, a Sotheby´s vendeu uma das folhinhas de Marilyn por US$286. Em 1991 uma exposição em Nova Iorque vendia reproduções de fotos antigas da atriz, do tempo em que era operária, por US$2 mil. E muitos das atrizes e modelos tiveram seus melhores momentos estampados em folhinhas que são vendidas nas grandes livrarias do país. E a pin up, antes simplesmente um desenho ou uma foto que ornamentava paredes e chamava visualmente a atenção pela beleza do rosto e do corpo, tradicionalmente escultural e sexy, acabou se transformando numa arte requintada de galerias e museus.

Segundo o estudioso das pin ups, Rudolf Piper (que lançou em 1976 o livro “Garotas de Papel”, pela Editora Global), por volta de 1930, no Brasil a prática de utilização da figura feminina tornou-se comum. Na publicidade, os belos corpos de mulheres vendiam produtos variados, de lingerie a cigarros. O cinema já antecipara a mudança desde 1917. “O Malho” tornou-se a primeira publicação essencialmente feminina e, em 1934, sofria a concorrência de “A Cigarra”. Mas o mito da pin up só foi oficializado com a Segunda Guerra Mundial. O mercado nacional começou a ser invadido por uma enxurrada de fotos, posters, cartazes e calendários com mulheres famosas, posando nuas.

Depois da guerra voltou-se ao esquema piadas pin ups. O Riso, Bom Humor e Seleções de Rir Ilustrada eram sucessos de mercado. Jayme Cortez, um dos pioneiros no destaque dispensado às modelos nacionais, trabalhava na paginação e fotos femininos nos anos 50. Também muito conhecido, principalmente nos calendários das Borrachas Oriori, era o pintor Vicente Caruso que, no final dos anos 40, utilizando uma técnica mista de óleo e pastel, criou belas folhinhas representando índias brasileiras, morenas e de olhos verdes, num clima de mistério e tentação. Nos anos 20 quem fazia esse tipo de trabalho era o ilustrador Renato Silva na revista “Shimmy”.

Nos anos 50, a revista Escândalo lançava duas pin ups famosas: Elvira Pagã e Luz Del Fuego, esta última convivia com as suas serpentes que ajudaram a aumentar sua fama, e foi quem fundou o Partido Naturalista Brasileiro, cujo lema era “Menos roupa e mais pão”. A famosa estrela dos cabarés, Elvira Pagã, metida em maiô de lamê dourado, ganhou manchetes no Brasil e no exterior e capas durante 15 anos. Ela lançou o biquíni nas praias brasileiras (sendo presa por isso) e que, cantando, dançando e despindo-se nos palcos mais famosos do País, levava os homens à loucura. Nessa época, circulava clandestinamente os famosos “catecismos” de Carlos Zéfiro, o desenhista de histórias pornográficas quadrinizadas.

No final da década de 50 surgiu a revista Senhor, que segundo Rudolf Pipper, “inovou a imprensa do gênero, gráfica e estilisticamente, abordando as pin ups com inteligência e riqueza, elegância e sofisticação”. Destinada ao público Classe A, foi a pioneira entre outras publicações luxuosas que, hoje, proliferam. Nos anos 60, o semanário de humor e política O Pasquim transformou Leila Diniz, musa do cinema novo brasileiro, na mais notável e descontraída pin up nacional.

O gaúcho Benício se destacou como um dos melhores ilustradores da época. Ele é autor da maioria dos pôsteres das chanchadas nacionais, além de capista exclusivo dos livros de bolso da Editora Monterrey. Com a censura nos anos 70, esse gênero se esvaziou. Nos anos 80 o consumidor de pin up voltou a satisfazer suas fantasias dependurando no quarto calendário com fotos de Monique Evans, Sônia Braga, Denise Dummont e Aldine Muller. Nos anos 90, chegou a vez de Doris Giesse, Sônia Lima, Andréa Guerra e Luciana Faria. Nos dias atuais, você escolhe...
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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´lma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela)

Um comentário:

Unknown disse...

Olá, Gutemberg! Tudo bem?

Sou estudante de jornalismo da Universidade de Santo Amaro (Unisa - São Paulo)e estou em fase de TCC.
Meu tema: O universo das Pin Ups.

Além do livro "Garotas de Papel", de Rudolf Piper, você conhece outros autores/estudiosos sobre o assunto?

Também estou com certa dificuldade para encontrar o livro de Piper. Creio que será um bom começo para minha pesquisa.

Você pode me ajudar?

Aguardo retorno.
Obrigada!