19 fevereiro 2009

Preconceito, o autoritarismo social (2)

Há uma espécie de preconceito espontâneo em relação a tudo que é diferente ou desconhecido. É preciso "des-preconceituar", mesmo aquilo que pareça estranho ou esquisito ao "modus vivendi" oficial. É um erro achar que a religiosidade, o folclore e toda a cultura popular não devem mudar e que precisam ser protegidas e conservadas em seu estado original e puro. Pensando bem, a cultura do pobre é sua vida. A cultura e a religiosidade popular são dinâmicas e mudam constantemente. O protagonista da mudança é o próprio povo livre, consciente e resistente.

Preconceito é uma postura ou idéia pré-concebida, uma atitude de alienação a tudo aquilo que foge dos “padrões” de uma sociedade. As principais formas são: preconceito racial, social e sexual. O preconceito racial é caracterizado pela convicção da existência de indivíduos com características físicas hereditárias, determinados traços de caráter e inteligência e manifestações culturais superiores a outros pertencentes a etnias diferentes. O preconceito racial, ou racismo, é uma violação aos direitos humanos, visto que fora utilizado para justificar a escravidão, o domínio de alguns povos sobre outros e as atrocidades que ocorreram ao longo da história.

Nas sociedades, o preconceito é desenvolvido a partir da busca, por parte das pessoas preconceituosas, em tentar localizar naquelas vítimas do preconceito o que lhes “faltam” para serem semelhantes à grande maioria. Podemos citar o exemplo da civilização grega, onde o bárbaro (estrangeiro) era o que "transgredia" toda a lei e costumes da época. Atualmente, um exemplo claro de discriminação e preconceito social é a existência de favelas e condomínios fechados tão próximos fisicamente e tão longes socialmente. Outra forma de preconceito muito comum é o sexual, o qual é baseado na discriminação devido à orientação sexual de cada indivíduo.
O povo judeu, tradicionalmente perseguido na Europa do Leste, sofreu o anti-semitismo nazista, com um saldo de 6 milhões de mortes trágicas. Eis alguns preconceitos étnicos: “Todo cigano é ladrão”; "o judeu é perverso"; "os índios em geral são improdutivos e preguiçosos"; "todo negro é adepto de feitiçaria". Outros preconceitos: a mulher no volante e o velho vagaroso são ridicularizados e acabam excluídos.

Qualquer que seja a natureza do preconceito, há sempre alguém que se aproveita dele para seu próprio bem. Há também a crença da “inferioridade natural” da mulher, que corresponde à “superioridade natural” do homem. Considerado o “sexo frágil”, são muitos os estereótipos que se conhecem a respeito da mulher. O preconceito leva à discriminação, à marginalização e à violência, uma vez que é baseado unicamente nas aparências e na empatia.
Em um trabalho para o Departamento de Sociologia da UPB, “O preconceito contra os baianos”, Antonio Sérgio Alfredo Guimarães escreveu: “O preconceito contra os baianos, paraíbas e nordestinos é dos mais fortes e persistentes no Brasil contemporâneo, só rivalizado pelo preconceito racial. O estereótipo do baiano como o imigrante pobre, ignorante, servil, preguiçoso, beócio, sem espírito empreendedor, sem chances de se tornar alguém, pode nos levar a considerar que tal estereótipo se deve a sua condição de imigrante no sudeste do Brasil, sendo portanto produto do pós-guerra, quando as migrações internas no Brasil substituíram as migrações internacionais em termos de prover de mão-de-obra a nascente indústria do sudeste, principalmente São Paulo. Só em parte isso é verdade. E é tão mais verdade para os termos paraíba, no Rio de Janeiro, e nordestino, em São Paulo, que para baiano”.

“A verdade inteira começa ainda no Brasil Colônia, quando a Bahia era a capital brasileira e os baianos, seus habitantes, se arrogavam a ser os únicos habitantes civilizados da Terra de Santa Cruz. Nos conta Gilberto Freyre que, em reação a tal pretensão, baiano passou a denotar no Sul, principalmente no Rio Grande, um janota palavroso, maneiroso e efeminado, típico dos homens urbanos, especialmente do Norte. Leiamos o mestre: ´E o baiano da cidade, isto é, de Salvador, acabou por sua vez fazendo de sua condição de homem da capital do Brasil – por muitos anos a cidade por excelência do palanquim e de negros que gritavam para todo homem de sapato que descesse do navio ou nau: “Qué cadeira, sinhô?”- motivo de supervalorização de origem ou de situação regional. Era como se fosse Salvador a única região civilizada, urbana, polida, do Brasil; e o mais, mato rústico. A essa supervalorização de origem ou situação urbana ou metropolitana, o gaúcho reagiu a seu modo, desdenhando de quanto brasileiro do Norte se mostrasse incapaz de montar a cavalo com a destreza dos homens do extremo Sul; e associando essa incapacidade à condição de baiano. Ser baiano era ignorar a arte máscula da cavalaria. Era ser excessivamente civilizado: quase efeminado. Quase mulher. Quase sinhá. Era só saber viajar de palanquim, de rede, de cadeira, aos ombros dos escravos negros. De modo que baiano tornou-se, no Brasil, termo ao mesmo tempo de valorização e de desvalorização do indivíduo por circunstâncias regionais de origem e de formação social. E o mesmo se verificou com gaúcho.”(Freyre 1936: 369).

“Baiano, portanto, enquanto metonímia de gente do Norte, ou Nordeste, como passou a ser conhecida a região a partir dos 60 do século XX, era já uma criação do século XVIII, ao menos para os gaúchos. Mas não tinha, certamente, o caráter incontroversamente pejorativo que ganhou nesse século. Era, como nos diz Freyre, um termo de valorização e desvalorização, ao mesmo tempo, provavelmente mais de valorização que seu contrário, pois todos sabemos como, na sociedade de corte, eram malvistos os homens do interior”.

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