21 janeiro 2009

Paranóia surrealista de Salvador Dali (1)

Há 20 anos morria o mestre do sonho e da rebeldia. No dia 23 de janeiro de 1989 o artista plástico espanhol Salvador Dalí, considerado sinônimo da pintura surrealista, morreu aos 84 anos no hospital de Figueras (nordeste da Espanha), vítima da insuficiência cardíaca, agravada por uma pneumonia. Desde que ingressou, aos 17 anos, na Escolça de Belas Artes de Madri, Dalí sempre foi leitor de Freud. Foi lá que conheceu o poeta García Lorca e o cineasta Luis Buñuel. Sempre irreverente, Dali desenhou sua própria caricatura e enviou-a aos jornais em 1985, quando já circulavam rumores sobre sua frágil saúde.

Na Alemanha, em 1919, fundava-se a Bauhaus, escola-núcleo do pensamento funcionalista. Era a arquitetura racionalista e sua ênfase no urbanismo, o surgimento do design como um programa ideológico e da arte como ato construtivo, integrado ao mundo das técnicas industriais. O Cubismo, precocemente, e o Construtivismo, paralelamente, instauravam-se como movimentos capazes de acompanhar o próprio desenvolvimento da Ciência moderna, tornando o objeto artístico um fato objetivo, crítico e racional. Arte e Tecnologia pretendiam avançar de mãos dadas, acreditando numa relação positiva entre o indivíduo e o progresso.
Mas na era funcionalista surgia o movimento DADA e, logo a seguir, o Surrealismo, empenhados em desmistificar a utopia racional e progressista de seus contemporâneos. A racionalidade do projeto e à lógica de um sistema organizado, os dadaístas contrapunham a inserção do acaso e da interferência existencial do artista. Já os surrealistas queriam uma total redutibilidade do Indivíduo, enquanto potência ilógica e onírica, face ao mundo da Ordem. É nesce momento que entra Salvador Dalí.
INCONSCIENTE
Integrante do grupo que deu origem ao Surrealismo na pintura (fato anteriormente ocorrido na literatura), Dalí – assim como Marx Ernst. Juan Miró, Hans Arp, Yves Tanguy, André Masson e René Magritte – recuperaram o inconsciente no espaço da arte. Interessados no conteúdo onírico das imagens e no funcionamento simbólico do espaço plástico, os surrealistas trabalhavam a partir da realidade das coisas e da figuração convencional dos objetos banais do mundo, mas num contexto onde as relações entre eles eram absurdas, inesperadas, inexplicáveis.
Para muitos críticos de arte, seu trabalho mais interessante foi realizado nos anos 20 e 30 – era a materialização das imagens insólitas de uma certa realidade interior, há pouco desvelada pela psicanálise. E aprovadas por Freud. E não foi só a imagem do surrealismo que Dalí condicionou. Ele foi um dos que ajudaram a popularizar o inconsciente, uma das noções centrais da nossa cultura psicanalizada.
O cerne da pintura surrealista, para Dali, era o seu caráter irreverente face aos valores burgueses e o mito da sociedade industrial, isto é, interessava-lhe mais o conteúdo simbólico das imagens do que a questão formal da pintura: valia-lhe, pois, o choque pelo escândalo. E ele fez de sua própria vida uma constante performance anti-stablishment, querendo ser, ele mesmo, uma potência viva de denúncia.
MITOLÓGICO
Monarquista, ele não aceitava a idéia dos surrealistas de uma política revolucionária, embora tenha revolucionado a concepção de artista no século 20. Inventou o modelo mitológico do artista do século 20, que um pintor como o norte-americano Andy Warhol ambientou para o mundo chique de Nova Iorque. Sobre sua obra escreveu o conceituado historiador de arte italiano Giulio Carlo Argan: “Salvador Dali traz na visão onírica e cheia de implicações sexuais de sua pintura um delírio de grandeza, uma pomposa retórica neobarroca, uma repugnante mistura de lúbrico e de sacro”.
Depois da 2ª Guerra Mundial, a pintura de Dali se academizou, passando a imitar o classicismo renascentista. O artista passou, então, a expandir suas atividades, criando modas, influenciando a publicidade, inventando móveis, jóias, vestidos, unhas postiças, sapatos musicais para amenizar as caminhadas durante a primavera, etc. Como artista e como homem, Dali foi uma figura controversa, aclamado por uns e negado por outros. Responsável pela revitalização do surrealismo, ele marcaria para sempre o imaginário mundial com seu extravagante bigode, cultivado sob a influência de um dos maiores mestres da pintura espanhola: Diego Velásquez.

Um comentário:

Anônimo disse...

otimo texto.

só não concordo com o "mestre do sonho e da rebeldia", pois o dali tornou-se apenas o mais popular dos surrealistas, o que não significa que tenha sido o melhor. Na pintura considero o Magritte bem mais interessante. E muito do conceito surrealista foi herdado da experincia do dada, que dali nem participou...