28 outubro 2008

Morte (1)

A cultura ocidental tem dificuldade em reagir diante da morte. Várias culturas construíram sistemas e mitos destinados para ajudar ao ser humano refletir sobre a angústia, tristeza, perda, ruptura e a continuidade. Nos mitos e ritos das mais diversas sociedades, o morto não deixa de existir, ele se transforma. Os homens de Neandertal tinham rituais de sepultamento e práticas que sugerem uma crença na continuidade da vida após a morte. Idéias sobre a existência de espíritos, deuses e deusas, e seres ativos e forças do além do alcance da percepção humana direta têm também uma longa história.

Para os romanos, a morte é a porta da vida. O deus da morte, Thanatos extirpa as forças negativas e liberta as energias espirituais. Sua mãe, Nix (a morte) e seu irmão Hypnos (o sono) tem o poder de regenerar. Os estóicos, sobretudo nos textos de Sêneca, recomendavam a seus seguidores concentrar-se em atitudes suscetíveis de produzir grande satisfação individual. Sua filosofia não se baseava em nenhuma dimensão transcendental após a morte do indivíduo. A partir do século 13 as pessoas esperavam uma vida eterna após a morte, vida na qual seriam recompensadas ou punidas pelas ações praticadas durante sua existência terrena.

“O ser humano sempre teve medo de morrer. A morte é o grande motor da vida, porque tudo que o ser humano fez desde o princípio dos tempos, fez contra a morte e porque iria morrer. Em outras épocas, isso sim, havia consolos mais eficientes contra a morte. Por exemplo, as crianças religiosas podem ser um grande consolo. Mas a fé cega tem grandes custos, e eu, que sou agnóstica, me orgulho de não agarrar-me a fé somente por medo de morrer. Em todo caso, neste mundo cada vez mais individualizado, mais atomizado e mais laico, o indivíduo estacada vez mais sozinho diante da própria morte”. A opinião é da escritora espanhola Rosa Montero, autora de obras como “A filha do canibal”, “História do ser transparente” w A louca da casa”.
A religião e a crença na vida eterna ainda representaria uma possibilidade legítima nos séculos seguintes. Mais tarde, Nietzsche formulou o conceito de “morte em vida”, ou seja, morte como parte da vida humana, em lugar de uma passagem para a vida eterna na qual filósofos e intelectuais deixaram de acreditar no fim do século 19. Freud, Heidegger entre outros desenvolveram uma filosofia existencial da morte.

“A morte é um despertador que quer nos acordar para o significado da vida a todo momento”. A opinião é da psicóloga Bel César, autora de cinco livros sobre budismo. Ela acompanha pacientes terminais utilizando fundamentos filosóficos do budismo tibetano.

Se a vida é mudança, impermanência e que todos os seres são perecíveis, há dois modos de passar o luto de uma pessoa amada. As recomendações do budismo é não se apegar, porque estar apegado é estar ligado, não livre ou seja, privado da liberdade. Se quisermos nos libertar dos laços que o amor tece, precisamos exercitar a sabedoria do não apego.

Totalmente inversa é a das grandes religiões que professa a ressurreição dos corpos. Praticando o amor em Deus teremos a felicidade de reencontrá-los. Assim o apego não é proibido. Essas duas doutrinas da salvação, quase opostos, tratam da morte dos seres queridos. Para muitos filósofos o melhor a fazer é pensar no assunto o menos possível mas estar sempre preparado para tal catástrofe.

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