26 novembro 2007

Uma mania planetária: nostalgia dos seriados

O folhetim, narrativa seriada publicada em jornais e revistas, consolidou uma fórmula de consumo para uma sociedade industrial que se constituía ao longo do século 19. A estrutura em capítulos já era padrão em romances, na medida em que nela se acentua a temporalidade, com a entrega de segredos ao leitor de forma regular, se consolida uma fidelidade à base de manipulação da tensão e da atenção.

O cinema vai adotar a fórmula seriada para conquistar e manter o público ainda nas primeiras décadas do século 20. A fórmula dos seriados no cinema, popular nos anos 30 e 40, também encontrou no rádio um veículo popular e de fácil acesso às massas consumidoras de histórias simples e contagiantes. Nos EUA, nos anos 30, o formato radiofônico, conhecido como “soap opera” (ópera de sabão, como referência irônica aos excessos dramáticos nessas histórias da vida cotidiana), era transmitido diariamente e seu público predominantemente era de donas-de-casa.

Da literatura folhetinesca para o cinema e o rádio foi um passo, em seguida, a tevê. O surgimento da fórmula dos seriados na tevê aconteceu em meados dos anos 40, nos EUA, com quatro redes principais dominando o novo veículo: ABC, CBS, NBC e DuMont. O predomínio do teleteatro e o valor publicitário agregado a uma suposta clientela com maior poder de consumo dava o tom. Encenação era ao vivo e num espaço confinado com cenário praticamente fixo. Com a entrada do videotaipe, em 1957, trouxe o desenvolvimento de roteiros cada vez mais específicos para o meio, condições técnicas mais sofisticadas e mis possibilidades narrativas. Dessa forma a atriz Lucille Ball deu origem direta ao formato de sitcom (abreviatura para a comédia de situações), gênero fundador dos seriados de TV, com a trama de “I Love Lucy”, adaptada de um programa de rádio bastante popular.

Na década de 60 os seriados de ficção científica eram os mais cultuados. Estimulado pelo sucesso de “O Mundo Perdido”, Irwin Allen lançou “Vigem ao Fundo do Mar” (1964/68). Em seguida ele produziu “Perdidos no Espaço”, “O Túnel do Tempo” e “Terra de Gigantes”. Outros seriados de sucesso: “A Feiticeira”, idealizado pelo produtor William Asher e sua mulher, a atriz Elizabeth Montgomery para a rede ABC. A concorrente NBC cria “Jeannie é um Gênio” (produzido por Sidney Sheldon).

O ano de 1970 marca a estréia de Mary Tyler Moore Show, o primeiro sitcom dedicado a uma personagem principal feminina, solteira e independente e suas peripécias diárias no mundo do trabalho. A década de 80 se transforma na época das séries realistas: Hill Street Blues, Twin Pearks. As longo dos anos 90, sexo, rogas, amoralismo de toda ordem são levados para dentro dos lares em horário nobre: Law & Order, Er, Friends,. Sex and the City, The West Wing, Família Soprano. A partir do ano 2001 são exibidos A Sete Palmos, 24 Horas, Lost e muitos outros virão para preencher o imaginário do público. Hoje, as pessoas do mundo inteiro discutem na Internet o que aconteceu no último episódio de Lost, tentando decifrar os mistérios da ilha e compram DVD´s da temporada completa de sua série preferida. Este envolvimento proporcionado pelas tramas e personagens das séries americanas de TV é um dos assuntos do livro do jornalista, crítico de cinema, professor Cássio Starling Carlos: “Em Tempo Real – Lost, 24 Horas, Sex and the City e o Impacto das Novas Séries de TV”, publicado pela Editora Alameda. Ótimo livro. Amanhã começaremos uma série sobre o assunto. O tema seriado já havia publicado em uma reportagem de setembro de 1991 no jornal A Tarde. Não percam...

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