09 fevereiro 2007

Cante conosco os anos de folia (3)

De mais de meio século para cá, a partir dos anos 50 a cantiga se tornou o elemento de maior relevo, o fator importante no carnaval, que é essencialmente cantado. Canta-se nas ruas, nos bares, nos desfiles, nos salões. Cantando é que o povo brinca. Bebe-se cantando, come-se cantando,. samba-se cantando. Não basta a música para a alegria coreográfica como o carnaval pernambucano, baiano ou carioca. O cântico é essencial. E o carnaval prossegue, embora se modifique de tempos em tempos. Somente a canção continua a ser índice expressivo da sua animação e alegria. Carnaval taí, cante:

1951:
“Tomara que chova /três dias sem parar (bis)/a minha grande mágoa /é lá em casa não ter água/eu preciso me lavar//De promessa eu ando cheia/quanto conto a minha vida/ninguém quer acreditar/trabalho não me cansa/me cansa é pensar/se lá em casa não tem água/nem pra cozinhar/tomara que chova” (Tomara que Chova, de Paquito e Romeu Gentil)

1953:
“Você pensa que cachaça é água/cachaça não é água não/cachaça vem do alambique/e água vem do ribeirão//Pode me faltar tudo na vida/arroz feijão e pão/pode me faltar manteiga/e tudo mais não faz falta não/pode me faltar o amor/há, há, há, há!/isto até acho graça/só não quero que me falte/a danada da cachaça//can can//Tem francesinha no salão/tem francesinha no cordão/ela é um sonho de mulher/vem do folies bergères/uh lá lá trés bien!/maestro ataca o can can! (Cachaça, de Mirabeau Pinheiro)


1956:
“Mangueira teu cenário é uma beleza/que a natureza criou, ô...ô...//O morro com teus barracões de zinco,/quando amanhece, que esplendor,/todo o mundo te conhece ao longe,/pelo som teus tamborins/e o rufar do teu tambor, chegou, ô... ô.../a mangueira chegou, ô... ô...//Ó Mangueira, teu passado de glória,/ficou gravado na história,/é verde-rosa a cor da tua bandeira,/pra mostrar a essa gente,/que o samba, é lá em Mangueira!” ( Exaltação À Mangueira, de Enéas Brites da Silva e Aloísio Augusto da Costa)

1958:
“Engole ele/engole ele, paletó/engole ele, paletó/que o dono dele era maior//Paletó de gente pobre...” (Engole ele Paletó, de J.Audi)

1960:
“Ei, você aí!/me dá um dinheiro aí!/me dá um dinheiro aí!//Não vai dar?/não vai dar não?/você vai ver a grande confusão/que eu vou fazer bebendo até cair/me dá me dá me dá, ô!/me dá um dinheiro aí!” (Me Dá um Dinheiro Aí, de Ivan Ferreira, Homero Ferreira e Glauco Ferreira)

1961:
“Ê, ê, ê, ê, ê/Índio quer apito/se não der/pau vai comer/lá no banal mulher de branco/levou pra índio colar esquisito/índio viu presente mais bonito/mim não quer colar/índio quer apito” (Índio Quer Apito, de Haroldo Lobo)

“Todos eles estão errados/a lua é dos namorados/lua, ó lua/querem te passar pra trás/lua, ó lua/querem te roubar a paz//Lua que no céu flutua/lua que nos dá luar/lua, ó lua/não deixa ninguém te pisar” (A Lua é dos Namorados, de Armando Cavalcanti, Klecius Caldas e Brasinha)

1964:
“Olha a cabeleira do Zezé/será que ele é/será que ele é//Será que ele é bossa nova/será que ele é Maomé/parece que é transviado/mas isso eu não sei se ele é//Corta o cabelo dele!/corta o cabelo dele!” (Cabeleira do Zezé, de João Roberto Kelly e Roberto Faissal)

1965:
“Mulata bossa nova/caiu no hully gully/e só dá ela iê, iê, iê, iê, iê, iê, iê, iê/na passarela//A boneca está/cheia de fiu,fiu/esnobando as louras/e as morenas do Brasil” (Mulata Iê Iê Iê, de João Roberto Kelly)

1966:
“Ui ui ui/roubaram a mulher do Rui/se pensa que fui eu/eu juro que não fui//Telefona pra radio patrulha/pega pega ladrão!/ta roubando mulher/no meio do salão” (Roubaram a Mulher do Rui, de José Messias)

“Tristeza/por favor vai embora/minha alma que chora/está vendo o meu fim/fez do meu coração a sua moradia/já é demais o meu penar/quero voltar àquela vida de alegria/quero de novo cantar/Lá ra ra ra ra/lá ra ra ra ra ra ra/lá ra ra ra ra ra ra/quero de novo cantar” (Tristeza, de Nilton de Souza-Niltinho e Haroldo Lobo)

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