08 fevereiro 2007

Cante conosco os anos de folia (2)


Carnaval é festa de ruídos. Dançava-se e cantava-se valsas, quadrilhas, mazurcas e, sobretudo, polcas. Havia a música dos guizos, dos dominós e dos sungas que tanta alegria davam ao carnaval. Nas ruas haviam ainda os sons de tropas e clarins, de bumbos e tambores. Marcha rancho, samba, marchinha, batucada e samba enredo.

1932:
“A..e..i..o..u/dabliu...dabliu.../na cartilha da Juju/Juju/a Juju já sabe ler/a Juju sabe escrever/há dez anos na cartilha/a Juju já saber ler/a Juju sabe escrever/escreve sol com c cedilha//Sabe conta de somar/sabe até multiplicar/mas na divisão se enrasca/outro dia fez um feio/pois partindo um queijo ao meio/quis me dar somente a casca!//Sabe história natural/sabe história universal/mas não sabe geografia/pois com um cabo se atracando/na bacia navegando/foi pra Ásia e teve...asia” (A-E-I-O-U, de Lamartine Babo e Noel Rosa)

“O teu cabelo não nega/mulata/porque és mulata na cor/mas como a cor não pega/mulata/mulata eu quero teu amor//Tens um sabor/bem do Brasil/tens a alma cor de anil/mulata, mulatinha, meu amor/foi nomeado teu tenente interventor//Que te inventou/meu pancadão/teve uma consagração/a lua te invejando fez careta/porque mulata, tu não és deste planeta//Quando meu bem/vieste à terra/Portugal declarou guerra/a concorrência então foi colossal/Vasco da Gama contra o Batalhão Naval” (Teu Cabelo Não Nega, de Lamartine Babo)

1933:
“Até amanhã/se Deus quiser/se não chover eu volto/pra te ver, ó mulher/de ti gosto mais que outra qualquer/não vou por gosto/o destino é quem quer//Adeus é pra quem deixa a vida/é sempre na certa que eu jogo/três palavras vou gritar por despedida/até amanhã, até já, até logo!//O mundo é um samba que eu danço/sem nunca sair do meu trilho/vou cantando o teu nome sem descanso/pois do meu samba tu és o estribilho” (Até Amanhã, de Noel Rosa)

“Quando eu morrer/não quero choro nem ela/quero uma fita amarela/gravada com o nome dela//Se existe alma/se há outra encarnação/eu queria que a mulata/sapateasse no meu caixão//Não quero flores/nem coroa com espinho/só quero choro de flauta/viola e cavaquinho//Estou contente/ consolado por saber/que morenas tão formosas/a terra um dia vai comer/não tenho herdeiros/não possuo um só vintém/eu vivi devendo a todos/mas não paguei a ninguém//Meus inimigos/que hoje falam mal de mim/vão dizer que nunca viram/uma pessoa boa assim” (Fita Amarela, de Noel Rosa)

1934:
“O orvalho vem caindo/vai molhar o meu chapéu/e também vão sumindo/as estrelas lá no céu.../tenho passado tão mal!/a minha cama é uma folha de jornal//Meu cortinado é um vasto céu de anil/e meu despertador é o guarda civil/(que o salário ainda não viu...)/o meu chapéu vai de mal para pior/e o meu terno pertenceu a um defunto maior(dez tostões no belcior)” (O Orvalho vem Caindo, de Noel Rosa e Kid Pepe)

1937:
“Mamãe eu quero/mamãe eu quero/mamãe eu quero mamá/dá a chupeta/dá a chupeta/dá a chupeta pro bebê não chora//Dorme filhinho/do meu coração/pega a mamadeira/e vem entra pro cordão/eu tenho uma irmã/que se chama Ana/de pisca o olho/já ficou sem a pestana//Olha as pequenas/mas daquele jeito/tenho muita pena/não ser criança de peito/eu tenho uma irmã/que é fenomenal;ela é da bossa/e o marido é um bossa” (Mamãe eu Quero, de Vicente Paiva e Jararaca)

1938:
“Eu fui às touradas de Madri/parará tim pum pum pum/parará tim pum pum pum/e quase não volto mais aqui...i...iii/pra ver Peri i...i/beijar Ceci/parará tim pum pum pum/parará tim pum pum pum//Eu conheci uma espanhola/natural da Catalu..unha/queria que eu tocasse castanhola/e pegasse o touro a u...nha/caramba.../caracoles.../sou do samba/não me amoles/pro Brasil eu vou fugir/que isto é conversa mole/para boi dormir/parará tim pum pum pum/parará tim pum pum pum” (Touradas em Madri, de Almirante)

1942:
“Nega do cabelo duro/qual é o pente que te penteia?/qual é o pente que te penteia?/qual é o pente que te penteia?/quando tu entras na roda/o teu corpo serpenteia/teu cabelo está na moda/qual é o pente que te penteia?//Teu cabelo permanente/qualquer coisa de sereia/e a pergunta sai da gente/qual é o pente que te penteia?//Misampli a ferro e fogo/não desmancha nem na areia/tomas banho em Botafogo...” (Nega do Cabelo Duro, de Rubens Soares e David Nasser)

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