22 junho 2006

Carlos Chiacchio

Escritor, animador cultural e jornalista. Carlos Chiacchio nasceu às margens do lendário Rio São Francisco, na cidade mineira de Januária em 1884. Fez-se baiano pelo coração, pois aqui chegou ainda jovem para estudar. Em 1895 ingressou, como aluno interno, no Colégio Spencer, transferindo-se, depois, para o Ginásio Carneiro Ribeiro. Em 1910, formou-se em Medicina, defendendo a tese A dor. Médico da Leste Brasileiro por 18 anos, cargo de que se afastou pela lei de desacumulação, exerceu também sua profissão no Lloyd Brasileiro, linha Rio de Janeiro-Buenos Aires, e na comissão federal de estudos da construção da estrada de ferro Machado Portela-Carinhanha. Foi professor de filosofia no Colégio 15 de Novembro, de Estudos Brasileiros, na Escola de Belas Artes, e catedrático de Estética na Faculdade de Filosofia, integrada depois na UFBA. Além de membro dos mais atuantes da Nova Cruzada, associação literária fundada em 13 de maio de 1901, foi o criador, a 28 de novembro de 1936, de Ala das Letras e das Artes, agremiação de grandes iniciativas culturais, como o Salão de Belas Artes, realizado em anos diversos.

Líder do movimento de renovação intelectual da Bahia, tendo fundado duas academias literárias - Nova Cruzada e Ala das Letras e das Artes -, além, de publicar livros e revistas, com estudos retrospectivos do back ground história da Bahia. Foi um dos batalhadores, ao lado do major Cosme de Farias, contra o analfabetismo. Ele foi um animador das artes e das letras na Bahia. À frente da Nova Cruzada congregou numa campanha de elevado objetivo, a geração dos nossos intelectuais, e na Ala das Letras e das Artes, estimulou a vida artística da cidade através de publicações, conferências e exposições.

Homem de letras, poeta, prosador, ensaísta, crítico de letras e artes do intelectual que foi, por todos os títulos. Um animador da cultura. Ele idealizou uma verdadeira ação cultural quando organizou encontros de cultura, salões de arte, festivais, jogos florais, torneios, planejou museus, publicações periódicas e edições de livros e revistas. Sua longa colaboração no jornal A Tarde, em cujas colunas manteve, semanalmente, com exemplar assiduidade, a secção de crítica intitulada Homens & Obras (1928/1946), constituindo um registro constante e praticamente completo de tudo o que de mais significativo aconteceu na Bahia, nas áreas da literatura e arte. De 24 de janeiro de 1928 a 4 de setembro de 1946, publicou 957 rodapés, principalmente de crítica literária. Foram numerosas biografias sobre figuras desaparecidas para resgatar na lembrança das nossas gentes os feitos de várias personalidades. Ao lado de publicação como Paginário, selecionou e divulgou escritores, poetas e artistas.

Entre os livros publicados estão À Margem de uma Polêmica (1914), Os Grifos (1923), Infância, versos (1938), Biocrítica (1941), Cronologia de Rui (1949) e Modernistas e Ultramodernistas (1951). Dotado de grande energia multiplicava-se Carlos Chiacchio em atividades artísticas, literárias, de jornalismo de críticas e editoriais. Além do artigo semanal de crítica literária em A Tarde, da publicação de Ala, em O Imparcial, das edições do Jornal de Ala e das edições Ala das Letras e das Artes, organizava os Salões de Ala, que durante quase toda a década de 40 foram as únicas realizações no campo das artes plásticas na Bahia, reunindo os artistas mais importantes como Presciliano Silva, Alberto Valença, Emídio Magalhães, Mendonça e Filho, Jayme Hora, Raimundo Aguiar, Oséas, e tantos outros, bem como os primeiros modernistas Mário Cravo Júnior, Carlos Bastos, Genaro de Carvalho, dos quais patrocinou e comentou em seus artigos de crítica as primeiras exposições. Na crítica literária Carlos Chiacchio afirma-se como uma das vozes mais autorizadas no seu tempo.

Para o jornalista Jorge Calmon, “Carlos Chiacchio foi, sem favor, a figura de maior presença na vida cultural da Bahia, na primeira metade deste século. Desconhecemos quem, em seu tempo, haja exercido influência equivalente, influência que não decorreu, propriamente, de sua produção, como homem de letras, não obstante notável, mas do papel que preferiu desempenhar, de criador ou incentivador de manifestações, e de grupos, colocando-se acima das competições (salvo quando lhe feriam os brios, ou lhe maltratavam as afeções, caso em que se transmudava no bravo polemista), foi uma espécie de papa da cultura na província, a reinar nas igrejas de literatos e artistas com autoridade incontrastável. E pôde alcançar esta situação de eminência, necessária ao exercício da missão que o atraía, graças à utilização da imprensa, numa época em que esta - voltada para as predições que então identificava no seu público - costumava dedicar às coisas de cultura mais atenção e espaço do que atualmente lhes reserva”. Já a pesquisadora Dulce Mascarenhas escreveu: “Iniciando, em A Tarde, sua série de rodapés críticos, em janeiro de 1928, Chiacchio fez um pequeno inventário de suas idéias, de seus depoimentos anteriores a essa data, sobre o Modernismo brasileiro, nele desenvolvendo parecerem já dados, acrescentando outros, organizando algo de substancial, a respeito do que pensava da renovação literária do Brasil, nas primeiras décadas do século XX”.

No dia 17 de julho de 1947 os meios intelectuais baianos receberam a dolorosa surpresa da morte do escritor e animador das artes e letras na Bahia. Ele foi enterrado no cemitério do Campo Santo. Grande é, com efeito, a perda da Bahia. Com a morte de Carlos Chiacchio desaparece uma das figuras que lhe representavam a inteligência e o saber. Morreu o homem, mas a sua obra ainda vive. Que outros lhe recolham o exemplo de luta e lhe continuem a obra. Com a presença de acadêmicos, historiadores e representantes dos diversos setores culturais, Carlos Eduardo da Rocha lançou, em 1997, o livro Homenagem a Carlos Chiacchio através do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia.

4 comentários:

Anônimo disse...

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Anônimo disse...

Very pretty design! Keep up the good work. Thanks.
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KATITA MAYA LOPES disse...

Eu fiquei muito feliz, ao encontrar no blog do GUTEMBERG,uma pequena biografia do CARLOS CHIACCHIO.Este brilhante escritor, era tio de minha mãe FRANCISCA CHIACCHIO LAVORATO, e irmão de minha avó materna, BERNARDINA CHIACCHIO LAVORATO.Nós ouvimos muitas histórias interessantes, sobre a nossa família, dentre elas,assuntos referentes ao talento do tio CARLOS CHIACCHIO.
Vamos divulgar mais sobre a sua obra e vida.Minha avó comentava, que ele adorava a Bahia como se fosse sua terra natal.
Um abraço.
MARIA HELENA LAVORATO
(Artista plástica e escritora)

Unknown disse...

Prezado Gutemberg,

Gostei muito do relato que fez sobre nosso Tio Avo. Cresci ouvindo sobre ele . Minha mãe até hoje com seus 91anos fala sobre ele e suas histórias e algumas destas tive a felicidade de confirmar, quis sejam, a cadeira número 5 da prestigiada Academia De Letras da Bahia, exatamente na semana da publicação do livro da Dulce Mascarenhas, Carlos Chiacchio - Homens e Obras, do outro foi conhecer em Lisboa a réplica do avião que fez a travessia do atlântico, e que segundo consta meu tio avo fez o discurso para recepciona-los na Bahia.
Tive ajuda de amigos e tenho algum material de seus escritos e continuo pesquisando, e agora estou buscando saber com quem ficou os direitos autorais dos livros de Carlos Chiacchio . Será que vc como jornalista e conhecedor do assunto poderia nos auxiliar nesta busca?
Forte abraço,
Marcus Lavorato
Advogado